Ensaio
Recebido
em 21 de maio de 2016
Por
Michel Zaidan Filho, filósofo, historiador, cientista
político, professor da UFPE e coordenador do NEEPD/UFPE – Núcleo
de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia.
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Por acordos fisiológicos, Mendonça Filho (DEM/PE) assume
Ministério da Educação e Cultura
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Permaneci
esse tempo todo intrigado com o modo como ficou indicado o deputado
pernambucano José Mendonça Filho (o “Mendoncinha”). No início,
pensei que fosse uma retribuição pelo seu ingente trabalho
conspiratório contra a Presidente da República, mesmo desmerecendo
com isso a importância da Educação, nesse ministério de “homens,
brancos e ricos”, como disse a nossa Presidenta. Conheço o
deputado pernambucano há vários anos, mas nunca tinha visto nele
nenhuma vocação especial para tratar de políticas públicas para a
Educação. “Mendoncinha” é natural de Belo Jardim (PE) e filho
de um ex-deputado do PFL, José Mendonça. É casado com a filha do
genro do coronel Chico Heráclito, de Limoeiro, e senador biônico,
Marcos Vinícius Vilaça, que apesar de pousar de literato e
intelectual, nunca se referiu ao genro de maneira intelectualmente
elogiosa. Há pouco, descobri através de uma das minhas leitoras que
ele tinha sido professor dela. E ótimo professor! Fiquei matutando
que disciplina o colega de Belo Jardim teria lecionado. Depois
descobri que ele tinha sido presidente de uma associação de
Avicultores. Daí passei a achar que ele tivesse conhecimentos de
galináceos e seus correlatos. O colega foi duas vezes à
pós-graduação de Ciência Política, a meu convite. Mas foi
“puxado” pelo seu tio, o saudoso empresário Edson Moura Mororó,
de quem me considerei amigo até o dia de sua morte. Foi dr. Edson
quem rebocou o sobrinho (como faria com o ex-senador Marco Maciel) a
atender o meu convite. Em nenhuma das vezes, o deputado do DEM (e
conspirador) demonstrou dotes oratórios, intelectuais ou mesmo
políticos; chegou a mostrar nervosismo e derramar uma xícara de
café. Depois disso, Mendoncinha não voltaria a aceitar nenhum
convite para ir ao Programa (de pós-graduação), apesar das
promessas.
Qual não foi, então, a minha
surpresa quando soube de sua nomeação pelo usurpador interino para
Ministro da Educação! E, por extensão, da Cultura. Fiquei
pensando: cultura avícola? Ou quem sabe lupina? Agora vem o
esclarecimento que foi o empresário dos serviços educacionais,
Janguiê Diniz, dono da Faculdade Maurício de Nassau, quem bancou a
indicação do nome de José Mendonça Filho para o Ministério da
Educação! Mais ainda, o empresário educacional conseguiu também
emplacar o nome do economista Maurício Romão para a Secretaria de
Regulação e supervisão do MEC, órgão responsável pela licença
e autorização para funcionamento de novos cursos. Vocês imaginem
como é colocar uma raposa no galinheiro e avaliem o resultado dessa
astuta operação: o dono da faculdade privada interfere diretamente
no órgão responsável pela fiscalização do seu negócio!
Não foi à toa que o ministro
interino entrou com uma ação no STF para derrubar as cotas dos
estudantes nos cursos superiores públicos e agora se saiu com a
ideia extraordinária de autorizar a cobrança de mensalidades nas
IES públicas. Dissipou-se o mistério da indicação do deputado de
Belo Jardim: representante de interesses privatistas no Ministério
da Educação. Tal como o da Saúde – o deputado Ricardo Barros –
quer acabar ou diminuir o SUS, atendendo ao pedido das empresas
privadas de Saúde. E o das Cidades – o menudo Bruno Araújo –,
acabar ou diminuir com o programa de habitação popular. E o do
Desenvolvimento Social, acabar ou diminuir as políticas
compensatórias de redistribuição de renda. E o das relações
exteriores, acabar com a política externa multilateral, sul-sul, do
governo Lula, para voltar à subserviência do Brasil aos interesses
norte-americanos.
Esse ministério não é só de
homens, brancos e ricos. Ele é o ministério da privatização
grosseira, brutal, antipopular e antinacional. Perguntaram-me porque
tantos pernambucanos estavam nesse ministério do temerário amigo de
Eduardo Cunha, o desventuroso. A explicação é uma só:
troca-troca, compra e venda, fisiologismo puro. Nunca ficou tão
clara e revelada a vocação desses políticos provincianos em vender
o apoio – para causas tão deprimentes – em troca de alguma
visibilidade, de alguma notabilidade, mesmo às custas de um golpe e
da destruição das políticas redistributivas. Não se preocupam com
nada, nem com ninguém. Só com os cargos e os dividendos políticos
que eles podem trazer. Lamentável essa crise de representação
parlamentar. Ela só contribui para aumentar a descrença do cidadão
comum nos políticos e pavimentar a estrada para os aventureiros de
toda estirpe.
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Os ministros pernambucanos Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araújo (PSDB) |
E a fonte desse esclarecimento da indicação de Dinis?
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