Recebido em 02 de abril de 2016
Por Diogo Xavier, estudante do curso de História da UFRPE.
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Torcida Coral [Santa Cruz-PE] protesta em jogo no Arruda (março/2016)
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Não
é incomum ouvir que o futebol é ópio para o povo ou que os
esportes servem acima de tudo para entreter a população dos
principais problemas da sociedade. Tais afirmações não são
totalmente distantes da realidade. A história é repleta de usos do
futebol para fins políticos nefastos: de Mussolini a Videla,
podem-se encontrar exemplos. No Brasil, é amplamente descrito o uso
da ditadura civil-militar pelo futebol. A Copa de 1970 com as
propagandas ufanistas e os campeonatos nacionais servindo para ajudar
o governo. Daí nasceu a expressão: “onde a Arena vai mal, um time
no Nacional!”. Entretanto, são tão numerosos quanto os exemplos
do futebol como meio de conscientização política: como esquecer a
Democracia Corinthiana?
E
de onde podia se esperar um calmante para toda a efervescência
política após o fim da eleição de 2014, está acontecendo o
inverso. Das arquibancadas (ou das numeradas mesmo, pois as
novíssimas arenas não possuem mais arquibancadas e nem geral)
surgem movimentos que tem chamado a atenção por todo o Brasil.
Esse
caldeirão vinha sendo preparado desde a Copa do Mundo realizada no
Brasil: a festa dos gastos utilizando o futebol, e a exclusão dos
torcedores dessa festa, a destruição de alguns templos do futebol,
que foram substituídos por arenas onde os torcedores são
domesticados e quase tudo é proibido, etc. Estádios superfaturados,
escândalos na venda de ingresso, dirigentes da CBF sendo presos, a
FIFA ocupando as páginas policiais, e toda a fachada de que o
futebol estava dando certo num mundo que estava desmoronando. Até o
7x1 endossa o caldo da revolta dos torcedores.
Com
tudo isso, os ataques aos torcedores não cessaram. No dia 25 de
janeiro de 2016, na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a
torcida do Corinthians compareceu em grande número. Era a
oportunidade de voltar ao Pacaembu. Durante o segundo tempo da
partida, a Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians e que
nasceu combatendo a ditadura dentro do clube, acende sinalizadores
fazendo uma bela festa de pirotecnia. Prontamente, o Ministério
Público de São Paulo pune a organizada por 60 dias. Foi o estopim
para uma onda de mobilizações.
A
torcida havia feito uma festa. Nenhum ferido ou prejudicado. E foi
punida. No entanto, os ladrões continuavam soltos. E, mais
especificamente, o ladrão da merenda. Fernando Capez, deputado
estadual pelo PSDB em SP, que ganhou notoriedade na década de 1990
criminalizando as torcidas organizadas, é réu na investigação que
comprovou o desvio de verbas da merenda escolar e nada havia sido
feito. Aos ladrões da merenda e políticos que pedem o fim das
organizadas com o currículo manchado e os seus nomes envolvidos nos
escândalos de corrupção, a Justiça se calou; e quem teve que
soltar a voz foram os torcedores.
Os
protestos em frente à Federação Paulista de futebol seguem
ocorrendo, e os alvos vão desde a CBF, a Federação Paulista de
Futebol, Fernando Capez, a Rede Globo e até os próprios dirigentes
do Corinthians, por conta de irregularidades nas contas do estádio
em Itaquera. Estas manifestações estão se multiplicando.
Torcedores do Santos e do São Bernardo fizeram protestos contra a
Rede Globo, e outras torcidas organizadas têm feito ações contra a
proibição de instrumentos e faixas nos estádios.
Em
Pernambuco, no dia 20 de março, em clássico realizado no Arruda
entre Santa Cruz e Náutico, a torcida do Santa Cruz levantou faixas
contra a CBF e a Federação Pernambucana de Futebol, contra a Rede
Globo e questionando as punições aos torcedores. A ação foi
recebida com muitos aplausos pelos torcedores que ecoaram logo em
seguida cânticos contra a Rede Globo. Mostrando o grau de
insatisfação que os torcedores têm com a emissora que monopoliza
as transmissões de futebol no país, que aumenta cada vez mais a
desigualdade entre os clubes e que obriga os times a jogarem em
horários absurdos para atender à sua grade de programação.
A
repressão policial que é comum no trato dos torcedores no dia a dia
dos estádios, tem ganhado proporções gigantescas. A proibição de
entrada de materiais se tornou ainda maior, realizando-se até
emboscadas contra as organizadas. O presidente da Gaviões da Fiel
chegou a ser espancado após sair de uma reunião no MP de São
Paulo, mostrando que eles vão usar qualquer artifício para deter as
manifestações.
Na
Europa, as torcidas estão se levantando contra os preços absurdos
dos ingressos. A torcida do Liverpool saiu do estádio no minuto 77
para protestar contra o aumento para 77 libras (R$ 436) do ingresso
na próxima temporada. O clube foi obrigado a recuar do aumento. Na
Alemanha, as arquibancadas que estenderam faixas favoráveis à vinda
de imigrantes no ano passado, agora se voltam contra o aumento dos
ingressos. A torcida do Borussia Dortmund atirou bolas de tênis no
campo para dizer que o futebol é um esporte popular.
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Torcedores do Borussia Dortmund protestam atirando bolas de tênis no gramado
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Essas
manifestações de torcedores por todo o mundo estão só começando.
O futebol implantado nos últimos anos está excluindo aqueles que
sempre fizeram parte do futebol e tem tentado impor um tipo de
torcedor-cliente, que não se enquadra nas emoções que extrapolam
as quatro linhas. Lutando contra os cartolas, as massas estão
entendendo que não é preciso apenas vencer os adversários dentro
de campo, mas também os seus adversários que usam terno e gravata
mas acabam com suas equipes.
Não
é de hoje que o futebol mostra sua força política no Brasil, e as
manifestações que começaram em São Paulo não tem previsão para
acabar pois os inimigos são muitos e a disposição dessas torcidas
é imensa. Como disse o hincha do Nacional-URU Eduardo Galeano:
Dos
nossos medos
nascem
as nossas coragens
e
em nossas dúvidas
vivem
as nossas certezas.
Os
sonhos anunciam
outra
realidade possível,
e
os delírios, outra razão.
Parabéns Pelo texto, companheiro.
ResponderExcluirAvante!
Valeu.
ExcluirSó não entendi uma coisa, fita azul ganha estrela?
ResponderExcluirMais uma vez na série A, ou seja mais uma vergonha que vai passar
ResponderExcluirIsso tudo é choro de tricolor, fato.
ResponderExcluirMaradona, vc estava usando drogas quando escreveu o texto?
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