Ensaio
Recebido
em 22 de fevereiro de 2016
Por
Michel Zaidan Filho,
filósofo, historiador,
cientista político, professor da UFPE e coordenador do NEEPD/UFPE –
Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia.
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Os filhos de Eduardo Campos nomeados |
Devemos
a um conhecido estudioso da cultura de massas no Brasil a chave
hermenêutica precisa para entender determinadas manifestações
político-culturais em nosso país, em nosso estado e a nossa cidade.
Refiro-me ao uso da categoria estética de
“grotesco”, associada [pelo]
russo Mikhail
Bakhtin à “carnavalização” da cultura ocidental. Originalmente
empregada para o estudo da cultura popular na Idade Média,
especificamente a obra do monge Rabelais, a poética do grotesco
tornou-se uma espécie de cânone literário e estético de larga
aceitação na análise de contextos culturais distintos e distantes
da límpida e elegante linguagem simbólica da cultura oficial dos
bem-pensantes e bem-comportados ou socialmente aceitos pelo
asceticismo da tradição judaico-cristã que nos formou.
Segundo
o crítico da cultura de massas, nada definiria melhor a identidade
do brasileiro (e certamente do pernambucano e do
recifense) do que o carnaval
enquanto manifestação da estética do riso ou do grotesco. E seu
maior intérprete teria sido, aliás, um pernambucano, Abelardo
Barbosa [Chacrinha].
Este seria o modelo, por excelência
da alma “brincante”, “lúdica” “bioenergética” do povo
brasileiro. O que o tornaria resistente às crises ou propenso a
esquecê-las. Como diz a propaganda da cerveja patrocinadora da
folia: “Crise? – Que
crise?”. O carnaval, como estética do grotesco, é um rito de
inversão simbólica que empodera “imaginariamente” os de baixo
contra os de cima, durante o ciclo momesco.
Assim,
não haveria nada mais estranho do que a imagem de
um carnaval organizado pelos
poderes públicos como principal produto turístico a ser vendido a
turistas e visitantes do mundo inteiro, sob a justificativa do
“exótico”, do “diferente”, do “telúrico” ou
“regional”. Que a tapioca de côco ou a batida de limão sejam
oferecidas
como a marca da nossa identidade cultural, entende-se. O carnaval,
como rito de inversão, não pode e não deve ser transformado numa
espécie de “ativo cultural” ou uma “vantagem cultural
civilizatória”, destinada a fazer do Brasil o lugar da
confraternização das raças.
Mais
surpreendente é ver a folia transformada em altar, monumento ou
consagração de notabilidades políticas de aldeia, com a
participação de familiares, apaniguados e clientes de toda espécie,
para que depois possa
ser usado em cartazes de campanha eleitoral antecipada, nas barbas da
inerte e cega justiça eleitoral. Como a política de Pernambuco, com
ou sem Ariano Suassuna, vem se tornando o palco de um espetáculo
armorial, com rainhas, infante e um cordel de áulicos sempre
dispostos a aplaudir o espetáculo mambembe, talvez possamos aplicar
aos políticos pernambucanos a categoria de “grotesco”, oriunda
da poética do riso, da mofa, do escárnio ou da sátira. A política
de Pernambuco hoje é objeto da carnavalização, no sentido mais
preciso (e profundo) do termo. O sentido bizarro, grotesco, risível
das nomeações pós-carnavalescas do atual representante do Poder
Executivo Estadual,
só podem ser entendidas
no registro da política do grotesco e do risível. Pernambuco está
sendo objeto de gozações e de riso no Brasil todo como uma espécie
de reino armorial onde o seu mandatário (ou mandado) não governa,
não administra, cumpre ordens dinásticas ditadas por eminências
não tão pardas assim, que apresentam seus pedidos e são regiamente
atendidas. Mesmo quando essas medidas contrariam os princípios
comezinhos da impessoalidade, da moralidade, da legalidade, que
caracterizam a administração republicana. Aqui a famosa tese dos
cidadãos “super-integrados juridicamente” e dos “sub-integrados”
virou a tese dos filhos de algo (“fidalgos”) e a vala comum dos
outros cidadãos, que estudam, trabalham duro, prestam concursos, não
recebem salário, mas são obrigados a pagar impostos para sustentar
a vida nababesca dos primeiros.
Quando
isso terá fim?
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Mandatários do PSB cumprem agenda carnavalesca |
Falta muita educação política ao povo! É lamentável ver uma aristocracia comandar o destino do povo Pernambucano desta forma. Uma família raizada em tantos cargos importante no governo de Pernambuco.
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