Ensaio
Recebido
em 11 de novembro de 2015.
Por Leal de Campos, militante socialista, ex-preso político e
economista.
Muito
se fala sobre os lucros recorrentes dos bancos e o poder que têm de ditar as normas
de funcionamento do sistema capitalista como um todo. E nesta mesma linha de
constatação alguns sugerem que é preciso acabar
com eles. Entretanto, como fazer isso sem se extinguir ao mesmo tempo o
Capitalismo? O
renomado economista François Morin, professor emérito da Universidade de
Toulouse e membro do conselho do Banco Central francês, autor do livro "L'Hidre Mondial" (A hidra mundial), afirma que é necessário “colocar os cidadãos a salvo de desastres financeiros futuros”. No
citado trabalho, revela como 28
bancos de porte transnacional constituem um oligopólio totalmente
distanciado do interesse público. E em face disso considera que é necessário
“destruir” os bancos (que ele compara a uma hidra) e resgatar a moeda para a
esfera da gestão pública.
Esclarece
ainda que: “há várias evidências de
muitas bolhas financeiras que podem estourar a qualquer momento. As bolhas do
mercado de ações só podem ser explicadas pelas enormes injeções de liquidez,
por parte dos bancos centrais. Mas, acima de tudo, existe a bolha da dívida pública que atingiu
todas as grandes economias. As dívidas privadas tóxicas - do referido
oligopólio bancário - foram maciçamente transferidas para os Estados, na última
crise financeira”.
Raciocínio
até “interessante” diante da crise sistêmica pela qual vem
passando o Capitalismo há , desde que o modelo econômico dá sinais de falência e
não tem mais como atender aos interesses da sociedade na qual se vive,
verificando-se um forte recuo na produção de alimentos
enquanto se privilegia uma desenfreada diversificação de produtos tecnológicos
e serviços especializados em geral. O sistema, baseado atualmente no mercado de
consumo e na especulação financeira tão-somente, estabelece os limites para uma
questionável ação regeneradora capaz de trazer algum benefício para a
maioria da população. O que foi um avanço e um progresso histórico frente ao
feudalismo, não mais representa aquele conteúdo sócioeconômico revolucionário
de então. Uma “invenção” europeia que resultou do desenvolvimento das forças
produtivas locais, levada para outros Continentes como um modelo organizacional
superior que possibilitava a modernização dos costumes e criava novas e
promissoras perspectivas de vida.
No
entanto, no tempo presente, o sistema capitalista está levando a humanidade
rumo à barbárie, em todos os níveis, porém sem abrir mão dos lucros
incessantes pela extração da mais
valia nas relações com a classe trabalhadora, sejam elas formais ou
informais. Aliás, a precarização do trabalho e dos salários favorece os
capitalistas a sugarem ao máximo as massas exploradas mesmo em situações de crises
cíclicas, que se repetem periodicamente. E, nestes casos, quem sempre lucra
mais em quaisquer das circunstâncias são exatamente os setores que tratam das
finanças.
Em
face disso, é preciso se esclarecer-se de uma vez por todas que não há nenhuma
possibilidade de se restruturar o Capitalismo e muito menos amenizar
as ações dos banqueiros, que fomentam e viabilizam o sistema nesta fase atual.
O ciclo que favoreceu e alimentou a formação de grandes potências capitalistas
na etapa inicial imperialista ainda dá as cartas, sustentado pela
globalização das relações econômicas entre os vários conglomerados econômicos,
em qualquer parte do mundo. O “acionista majoritário” pode estar a quilômetros de
distância de um determinado empreendimento econômico, mas exercendo o seu poder
de mando através de seus agentes intermediários. Esta é a realidade dentre a
qual o Capital sinaliza as escolhas que devem ser feitas pelas corporações
empresarias em cada país, tendo por interesse maior a contínua recomposição
da taxa de lucro. Isto sem levar em conta inclusive a deterioração do meio
ambiente, por exemplo. Nada disso importa, pois o que interessa mesmo são os
ganhos financeiros a todo e qualquer custo, os quais reciclam a interdependência entre o sistema e os bancos.
Com efeito, o diretor-geral da
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), Jacques Diouf, fez uma chamada para que se consiga "um grande consenso para a eliminação total e
rápida da fome", que atinge hoje 1,02
bilhão de pessoas e que, em 2050, deve chegar a 2,3 bilhões. É o reflexo do desprezo por pessoas que vivem em
permanente estado de pobreza. Entretanto, com tantas inovações tecnológicas e
processos aprimorados ao longo do tempo, como se pode aceitar um prognóstico
tão crucial como este sem questionamentos?
Dito isso como uma tentativa de
elucidação, retoma-se a discussão para o campo político revolucionário que é a
de ter claro que é preciso lutar pela eliminação do Capitalismo e não
tentar reformá-lo de dentro da pra fora como ainda se propõe hoje em
dia. Sabe-se que a via parlamentar tem a sua importância relativa nas lutas
pontuais do dia a dia, em defesa das liberdades democráticas e do “pleno”
exercício da cidadania para todos, principalmente a favor das inúmeras
minorias, nos marcos do regime democrático-burguês. Mas, é isso só e nada mais.
Ora,
é um fato cabal que o Parlamento nunca foi o caminho da transformação social radical
em busca de outras formas para se alicerçar uma nova sociedade, que seja justa, fraterna e igualitária. E
é também uma verdade incontestável que não é nem seria possível se desfazer da
“banca” sem desconstruir o sistema
vigente.
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