Ensaio
31 de julho de 2015
Por Michel
Zaidan Filho, filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.
Em recente almoço de confraternização, desfrutei
de uma oportunidade rara: receber uma verdadeira aula sobre o atual grupo no
poder em Pernambuco. E de uma fonte interna ao grupo dominante desde a
época de diretório estudantil. Em primeiro lugar, uma distinção didática e
muito clara sobre a divisão de trabalho que deveria ter se estabelecido no
interior dessa oligarquia local entre os assim chamados
"estrategistas", ganhadores de eleição, e os "gerentes", aqueles
que deveriam ocupar os cargos depois da competição eleitoral.
Os primeiros constituem naturalmente a liderança
política dotada de capacidade aglutinadora, formulação política, força para
soldar alianças, escolher os nomes de confiança e garantir sua eleição. Os
segundos, os mandatários escolhidos – a dedo, segundo uma fidelidade canina –
para executar o plano, a estratégia dos formuladores ou líderes. Aqui, o chefe
ou o líder era, como se sabe, o ex-governador de Pernambuco, falecido em avião
"emprestado" pelo sócio, o fazendeiro e presidente da Coopergás. Os
prepostos, o atual governador (casado com a prima da ex-primeira dama) e o
atual prefeito. A banda deveria tocar assim: um manda e os outros executam, ou
obedecem, até porque, na condição de auditores, não tinham a menor experiência
política ou de ocupação de cargos públicos, como gestores municipais ou
estaduais. Mas o critério de escolha era outro: a fidelidade canina ao chefe.
Morto misteriosamente em desastre aéreo, até hoje não esclarecido, os gerentes
tornaram-se, num passe de mágica, políticos. De meros ajudantes, tornaram-se
mandantes ou ordenadores de despesa, num grave contexto de restrições fiscais e
orçamentárias e em oposição ao governo federal.
Começou a tragédia
administrativa no Estado de Pernambuco: Arena condenada, túneis inundados, obras
da mobilidade inacabadas, hospitais de referência caindo aos pedaços, greve na
educação, greve nos transportes públicos, a farsa do pacto pela vida, crise no
judiciário. Como não tinha ninguém para ocupar o lugar do chefe, a não ser a
viúva, os filhos , o cunhado e a mãe, as criaturas passaram a ganhar vida e
ensaiar uma política que nunca tiveram ou foram capazes de fazer.
Estabeleceu-se aos poucos uma autofagia interna entre os membros do
“entourage”. Cada um querendo tomar o lugar do outro, a vaga de senador, de
deputado, de prefeito. Sem o chefe, todos aumentaram o seu cacife político por
conta própria, dando início à desagregação do grupo político. Aliados de ontem
já ensaiam candidatura própria para as eleições de 2017. E bem a propósito de
eleições, a matriarca resolveu dar um recado, para dizer o quanto não está
sendo bem considerada na atual situação política do Estado: vem estimulando a
candidatura de um dos filhos a uma Prefeitura municipal vizinha, para dizer que
está vivíssima e disposta a dar sua modesta colaboração pelo progresso de
Pernambuco. Pelo visto, o espólio político do ex-governador tornou-se alvo de
uma dura disputa entre seus correligionários e familiares, que está apenas
começando.
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